domingo, 1 de novembro de 2015

#dia7

Tal como já imaginava que ias fazer, como ficaste lixado ontem por te ter chamado à atenção não disseste nada. Não ligaste, não disseste o que ias fazer. Achas que é controle? Não tenho o direito a saber com quem andas e a fazer o quê? Qual o teu problema? Liguei-te e só me senti pior. Estás a ser egoísta e muito injusto. Como achas que fico quando falas assim comigo? Estou a horas de saber o resultado dos exames, mas nem te lembras. Eu que me aguente. Acusas-me de querer que fiques fechado no hotel. Achas mesmo que sim? O que é que é difícil perceber? Que mesmo estando longe devias e podias estar mais presente? Mais ligado? Que me podes dizer onde andas e para onde vais? Não mereço esse voto de confiança? E depois vens com ameaças que te vens embora. Tu não farias isso por mim. E se por acaso por milagre o fizesses ias acusar-me para sempre. Ias odiar-me. Ias vingar-te. Em vez de pensares nas coisas e de tentares ser mais carinhoso e atencioso a falar só me deixaste a chorar o resto do dia.
Eu estou doente. Amanhã podes ser tu. eu não te faria isto.
São 19h30, aí é mais uma hora e continuas sem dizer nada. Vai ligar só mais tarde e se o fizeres é para me magoares mais. Ou então mandas uma merda de uma mensagem sem sequer te lembrares que dia é amanhã. No pânico que estou a sentir. Nem deves ter parado para pensar que nem os teus pais cá estão e se os resultados forem mais estou...enfim.
Fica aí mergulhado no teu orgulho e egoísmo. Nunca imaginei que pudesses nesta altura manter o teu egoísmo acima de tudo. É triste.
Já passou mais uma hora. Estás a ignorar as mensagens.
E ao telefone o silêncio cobarde e o não haver futuro juntos, nem uma decisão. E mais tretas. Amanhã, aconteça o que acontecer na consulta, não muda a minha posição. Ou estas comigo ou não.

#dia6

Estive todo o dia em casa. Disseste que ligavas à tarde, fiquei à espera de poder falar contigo. No pouco tempo em que me fui despedir dos teus pais ligaste e já não te consegui apanhar. Fico triste que não tenhas esperado, ligado mais cedo. Depois ficas incontactável e sinto que se acontecer alguma coisa nem o saberás. Não gosto da forma como te estás a comportar. Disseste antes de ires embora que íamos falar muito, não está a acontecer. As noites em que preferes ir estar com outras pessoas em vez de tirares tempo para falares comigo sem pressas são reveladoras, tristes. Sinto-me sozinha. Foi isso que te tentei explicar quando ligaste aquela hora mas preferiste atacar-me. Não mereço estar a ser acusada assim.

#dia5

Hoje o dia foi horrível. Ouvir o médico a dizer aquelas expressões daquela maneira meteu-me mesmo em baixo. A pressa com que pediu os resultados e a exigência em que fosse logo lá no próximo dia útil deixou-me muito apreensiva. Não devia ter ido sozinha, devia ter pedido a alguém para ir comigo. Soube-me muito bem ter as flores que me mandaste quando cheguei ao trabalho, já não sabia o que era chorar de alegria. Só te queria poder abraçar. Tenho tanto medo. E estou a não saber disfarçar quando me ligas. Tento estar bem para não te preocupar mas às vezes não consigo. Desculpa-me ser fraca.

#dia4

Estive no atellier da Diana, com o Dinis a tentar distrair a cabeça. As pessoas eram simpáticas mas sentia-me ansiosa. O Dinis também não estava no seu melhor. Mas foi bom sair de casa.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

#dia3

Tive um dia difícil. Não falares comigo o dia todo. Ver que recebes os whatsaps e não respondes, ver que afinal tens skipe a funcionar e nem te vejo a cara desde que foste embora. Sinto-me sozinha, deixaste-me para trás. Hoje foi um mau dia.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

#dia2

Hoje foi um dia estranho. A demasiada atenção dada pela psiquiatra, a ligar-me fora de horas, deu-me a sensação de que realmente se importa e assustou-me por outro lado. Eu sei que estes exames que tenho que fazer e que envolvem palavras como cancro e cérebro na mesma frase são por despiste enquanto não sabem o que se passa, mas a ideia aterroriza-me. Sinto-me sozinha. As pessoas que sabem o que estou a passar tendem a desvalorizar para me fazerem sentir melhor mas...por outro lado fico com a sensação de que não têm a noção do impacto que isto está a ter nestes dias. Sempre me achei forte, nada me derrubou de tudo o que já passei, mas perante a possibilidade de não poder ter filhos não arranjo nem formas nem escapes de lidar com isto. Passei a vida a fazer fugas para a frente e agora estou encurralada por não depender de mim controlar o meu corpo. E sei que se a vida me roubar o meu maior sonho, ter filhos e educá-los num processo oposto ao que me deram a mim em criança, a minha vida perde o sentido. Só me apetece chorar quando penso nisto. E devo parecer absurda, mas acho que lidaria melhor com um cancro no cérebro que pudesse tratar do que com a perda do que faz de mim mulher, o poder de gerar uma vida. Espero que Deus não me castigue por estar a dizer isto, mas sinto-me uma falhada como mulher. Tenho medo que me vejas assim também. Hoje apeteceu-me ligar-te para me acalmares, mas sei que estes dias são também muito intensos para ti, tenho que ser altruísta e tentar dar-te serenidade e confiança nesta altura importante na tua carreira. Mas...fazes-me falta aqui. Sinto-me desamparada, apesar de saber que estás aqui para mim se precisar de ti. E eu sei que estás aqui. Obrigada pela compreensão nos últimos dias, tens sido o meu pilar.  

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

#dia1

Apesar de estar preparada para esta tua viagem, as circunstâncias atuais fizeram-me sentir que desde que bateste a porta que fiquei com o peso do mundo em cima dos ombros. Fiquei a ver-te partir no táxi, não olhaste sequer uma vez para trás. Não posso ficar chateada, imagino que estivesses em stress. Chorei assim que foste embora. Desculpa, não consegui controlar. Já sinto a tua falta. A esta hora já estarias em casa e sei que teria um abraço. Uma brincadeira qualquer a seguir, uma das tuas macacadas, às quais me forço a não rir para não andares minutos inteiros a fazer sons de macacos, que na verdade são mais de orangotangos, em vez de levares os pratos para a mesa.
A médica ligou hoje para saber como me sinto. Achei simpático, desse-me que podia ligar a qualquer hora. Deixei o contato do Dinis e da Neuza. Durante o dia percebi, e juro que me enoja a ideia de me estar a vitimizar, de que é verdade que só nos momentos de aperto sabemos quem são os nossos verdadeiros amigos. A Neuza ofereceu-se sozinha e o Dinis nem pestanejou quando lhe pedi. Estou assustada. Preciso de me aguentar, eu sei, mas esta angústia de estarem a ser postas em causa coisas que nunca aceitarei que sejam postas em causa, está a magoar-me muito. Vou tentar não te sobrecarregar com os meus dramas, é importante que estejas bem, forte. É uma altura muito importante para ti e quero que estejas no teu melhor. Eu aguento-me, preciso apenas que voltes para mim, e me dês um abraço. Amo-te